Como a suspensão dos vistos estudantis por Trump afeta brasileiros

09/06/2025

As entrevistas para novos vistos de estudantes que pretendem se mudar para os Estados Unidos foram suspensas pelo presidente Donald Trump em todo o mundo.

 

A medida vem na esteira da proibição de matrícula de estrangeiros que o presidente impôs à Universidade de Harvard, atualmente anulada por uma decisão judicial. O Departamento de Imigração justificou que a suspensão vale até que o governo aprimore o sistema para análise das redes sociais dos candidatos.

 

Governo Trump proibiu novas entrevistas para estrangeiros que querem visto de estudante

 

Por enquanto, isso faz com que o país deixe de ser uma opção viável para estudantes brasileiros que ainda não têm o visto, de acordo com um especialista consultado pela revista eletrônicaConsultor Jurídico. Quem já tem os vistos das categorias F (voltado a estudantes de faculdades e universidades) M (escolas de negócios ou cursos técnicos) e J (intercâmbio) no passaporte não será afetado.

 

“Para os brasileiros que possuem o visto de estudante normal, não muda nada. Quem já possui vistos para estudar em faculdades e universidades, entre elas Harvard, pode ir e voltar sem problemas dos Estados Unidos”, explicaGuilherme Vieira, advogado especialista em imigração.

 

Entretanto, a maioria dos estudantes teme voltar para os países de origem e ter problemas para retornar para os EUA. As férias acadêmicas nos Estados Unidos começam no final de maio e terminam entre o fim de agosto e o começo de setembro.

 

Nesse intervalo, os estrangeiros costumam sair do país para visitar a família. De acordo com o advogado, mesmo com as novas restrições, nenhuma retaliação deve acontecer para quem já tem o visto.

 

Vieira esclarece que o processo de deportação pode ocorrer a qualquer imigrante que violar as leis dos Estados Unidos, mesmo os que têmgreen card (https://www.conjur.com.br/2025-fev-23/populacao-de-brasileiros-no-exterior-aumentou-814-desde-2015/)green carde situação regular.

 

“Ogreen carde os vistos não são direitos dos imigrantes, são benefícios que os Estados Unidos concedem. Então, eles podem retirá-los a qualquer momento, quando entendem que aquela pessoa não está cumprindo com alguma das leis do país”, diz Guilherme Vieira.

 

O que tem acontecido, entretanto, diz o advogado, é a revogação desses benefícios por conta de postagens nas redes sociais. Postagens enaltecendo crimes, facções ou antissemitismo contrariam as diretrizes governamentais da gestão Trump, ainda que o país tenha uma regra consolidada sobre liberdade de expressão.

 

Desde 2019, a análise das redes sociais é um requisito obrigatório para a concessão do visto. Mesmo quem já foi aprovado no processo pode ser observado depois, já que o governo mantém oslinkspara as redes no cadastro.

 

A política está prevista noDS-160 (https://br.usembassy.gov/pt/visas-pt/vistos-de-nao-imigrantes/)DS-160, formulário de aplicação para vistos de não imigrantes e alguns residentes permanentes.

 

“Isso já acontecia. Só está sendo mais falado agora porque ficou público com as novas medidas. Se o aplicante não fornecer oslinkscorretamente e a imigração encontrar alguma rede social, é fraude imigratória, porque essa pessoa deixou de prestar uma informação importante para ser verificada pelos oficiais”, diz o advogado.

 

A finalidade, segundo Vieira, é monitorar o perfil da pessoa para saber seu estilo de vida pessoal e profissional. Outra questão observada pelo governo, por meio das redes sociais do solicitante, é se a pessoa tem o tipo de qualificação e renda necessária para o visto que está pedindo.

 

Guilherme Vieira analisa que o objetivo de Trump com as restrições é ter poder de negociação com outros países, para que acordos futuros saiam exatamente como ele quer.

 

“Mesmo que ele sangre algumas coisas que prejudicam os Estados Unidos e seus cidadãos de forma temporária, ele quer usar isso nos termos de negociação para que ele ganhe sempre, como ganhava lá atrás com as empresas dele”, diz.

 

O advogado acredita que a medida não deve durar muito tempo, porque ela prejudica as universidades — cujo maior patrocínio vem das mensalidades de estudantes estrangeiros — e, consequentemente, o país como um todo.

 

“O próprio governo e as faculdades dependem financeiramente desses estudantes estrangeiros. Também tem a questão da mão de obra, seja de cientistas, seja de outras pessoas que dão suporte e fazem parte da história dessas faculdades, que contribuem com pesquisas e referências profissionais. Tem imigrantes que estudaram em Harvard e que ganharam o Prêmio Nobel. Os Estados Unidos perdem muito com isso e, todos, em nível global, também perdem”, afirma Vieira.

Fonte: Conjur